A doença que mais mata no Brasil está atingindo as pessoas cada vez mais cedo. A boa notícia é que prevenir pode ser mais fácil do que você imagina. Saiba o que fazer para fi car fora dessa estatística
S tipo 2
Até bem pouco tempo atrás, o diabetes tipo 2 fazia parte das doenças associadas ao envelhecimento natural da pessoa. Mas um fato tem chamado a atenção do Ministério da Saúde: o crescimento da doença em pessoas com idade abaixo de 40 anos. O alerta é geral: o perfil mudou, mas os riscos ainda são os mesmos que têm feito os brasileiros se tornarem vítimas precoces de doenças como infarto ou derrame.
Alimentação inadequada e hipercalórica, aumento da obesidade, sedentarismo e estresse. “O diabetes já foi uma doença típica do envelhecimento, mas esta situação mudou e as pessoas precisam estar atentas para isso”, diz Fadlo Fraige Filho, presidente da Federação Nacional de Associações e Entidades de Diabetes, em entrevista para a VivaSaúde.
Para quem ainda duvida, basta dar uma olhada nas mais recentes estatísticas sobre a doença. No Brasil, já temos 6,2 milhões de portadores com idade acima dos 18 anos, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde no último dia 14 de novembro, Dia Mundial do Diabetes.
Os dados fazem parte da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel-2006). O número por si já bastaria para assustar, mas a própria coordenação da Política Nacional de Prevenção e Diabetes admite que a situação real é ainda mais preocupante, já que pelo menos metade das pessoas simplesmente não sabe que é portadora da doença. Sem o diagnóstico correto e, na maioria das vezes, sem apresentar os principais sintomas (veja quadro: Sinais e sintomas) essas pessoas infelizmente só descobrem o diabetes quando surgem as complicações mais sérias.
Epidemia mundial
No diabetes tipo 2, a insulina produzida não é suficiente para controlar os níveis de açúcar presentes na corrente sangüínea. Este problema é chamado de resistência à insulina. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, esse tipo é de oito a dez vezes mais comum que o tipo 1, também chamado de diabetes juvenil. Neste caso, a doença é autoimune, caracterizada pela destruição das células produtoras de insulina. Nos casos de diabetes tipo 1, o paciente deve tomar insulina para sobreviver, pois não produz (ou produz quantidades muito pequenas) desse hormônio. Esse tipo é também o mais comum entre as crianças. “Assim como a obesidade, e até devido a este crescimento, o diabetes tipo 2 também é classificado como uma epidemia mundial”, lembra Fraige Filho. Segundo ele, o diabetes já é, juntamente com a hipertensão, a doença que mais mata no país. “Mas a boa notícia é que prevenir o diabetes tipo 2 passa pela prevenção de uma série de outras doenças, incluindo a obesidade”, explica. “Precisamos combater os grandes problemas associados à vida moderna para evitar o crescimento da doença”, completa.
"FALTA DE DIAGNÓSTICO DETECTA TARDE DEMAIS A DOENÇA. PREVENÇÃO AINDA É O MELHOR REMÉDIO"
Alimentação e exercícios: peças-chave
As peças-chave para a prevenção do diabetes tipo 2 são simples. Por mais que os médicos repitam isso, no entanto, a mudança no estilo de vida, fundamental para a prevenção e sucesso no tratamento, ainda é uma tarefa complicada. Prevenir a doença passa por uma alimentação equilibrada, evitando o abuso de doces e gorduras, e a prática de exercícios físicos regularmente. Uma dieta rica em fibras e com menor quantidade de gorduras (óleos, creme de leite, manteiga) é a recomendação principal da Sociedade Brasileira de Diabetes. No item exercícios físicos, a prática quatro vezes por semana até 40 minutos de caminhada, por exemplo, é indicada. E lembre-se: ao fazer isso você estará prevenindo outras doenças importantes, como as cardiovasculares, osteoporose etc.
Se todos esses motivos já são suficientes para ficar atento, vale lembrar que outros riscos como massa corpórea e predisposição genética também contribuem para a doença.
“Pessoas com índice de massa corpórea superior a 30 são fortes candidatas ao diabetes. E, se você tem alguém na família com a doença, é preciso estar sempre atento aos riscos e fazer exames rotineiros”, lembra Fraige Filho.
O diabetes, como doença que mais mata no Brasil, é uma das principais responsáveis por complicações cardiovasculares que normalmente terminam em infarto e derrame (veja quadro: Epidemia mundial). Quando não controlada adequadamente, também pode levar à cegueira e amputações. “Estamos falando de um mal que já atinge 177 milhões de pessoas no mundo”, lembra Fraige Filho. E, segundo estimativa da Federação Internacional de Diabetes para 2025, é de que esse total chegue a 330 milhões de portadores no mundo. Com todas essas projeções não é de se admirar que o foco principal dos programas de prevenção esteja justamente no binômio atividade física x controle do peso.
Sinais e sintomas
Sabe-se que no diabetes do tipo 2, o fator hereditário é muito maior do que no tipo 1. Além disso, há uma grande relação com a obesidade e o sedentarismo. Estima-se que 60% a 90% dos portadores da sejam obesos. A incidência é maior após os 40 anos. Uma das características da doença é a produção contínua de insulina pelo pâncreas. O problema está na incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Por muitas razões suas células não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sangüínea. Esta é a chamada “resistência insulínica”. O diabetes tipo 2 é cerca de 8 a 10 vezes mais comum que o tipo 1 e pode responder ao tratamento com dieta e exercício físico. Outras vezes vai necessitar de medicamentos orais e, por fim, a combinação destes com a insulina.
PRINCIPAIS SINTOMAS:
● Infecções freqüentes
● Alteração visual (visão embaçada)
● Dificuldade na cicatrização de feridas
● Formigamento nos pés
● Furunculose
Mais crianças e mais jovens com a doença
A doença está atingindo cada vez mais cedo crianças e jovens. Até agora, os médicos não têm uma explicação lógica para isto. Surpreende o fato de ser o diabetes tipo 2, e não o tipo 1, a juvenil, mais comum entre entre as crianças.
A situação é tão preocupante que a Federação Internacional de Diabetes (IDF) lançou neste ano uma campanha de alerta. O objetivo é chamar a atenção da população para o problema. De acordo com dados da IDF, em alguns países, 80% das crianças diagnosticadas já têm o tipo 2 da doença. Provavelmente, as mesmas mudanças no estilo de vida que afetam os adultos podem explicar o aumento no número de casos em crianças. Mais sedentárias e obesas, elas são vítimas de doenças que até então só atingiam pessoas acima dos 40 anos (veja quadro: Cintura: risco dobrado). “Essa é uma situação que observamos no mundo inteiro”, avalia Fraige Filho. Por isso, mais uma vez vale a dica. Os pais também devem estar atentos para a alimentação dos filhos, evitando açúcares e gorduras em excesso e aprimorando os pratos com fibras e muita variedade de alimentos, como frutas e verduras. Também devem se preocupar em estimular atividades físicas para as crianças. Prevenir em família, portanto, é a melhor dica dos especialistas para debelar a epidemia deste século.
"EPIDEMIA ASSUSTA E DESPERTA EM NÓS O ALARME: SERÁ QUE ESTE NÃO É O MOMENTO DE REPENSARMOS NOSSO ESTILO DE VIDA E O DOS NOSSOS FILHOS?"
Cintura: risco dobrado
Tão importante quanto evitar o aumento de peso é observar a gordura acumulada na barriga. Cada vez mais os dados indicam uma ligação entre o aumento da circunferência abdominal com o crescimento dos chamados riscos cardiometabólicos, que incluem obesidade abdominal, triglicéride acima do normal, baixa taxa de colesterol bom (HDL) e níveis elevados de açúcar no sangue. Um estudo concluído em setembro deste ano envolvendo 28 países, incluindo o Brasil, revelou que grande parte da população desconhece os riscos associados a esse tipo de gordura, um dos vilões para o aparecimento do diabetes tipo 2. A medida ideal da cintura abdominal para mulheres é de 80 cm e para os homens 90 cm. A pesquisa Shape of the Nations – 2007 (Forma das Nações), patrocinada pelo Laboratório Sanofi-aventis, ouviu 200 brasileiros e descobriu que apenas 8% sabiam que o excesso de gordura abdominal é risco para a doença. Para o médico Fadlo Fraige Filho, o controle do diabetes depende do acompanhamento rigoroso da glicemia, da pressão alta e do colesterol, ou seja, de fatores ligados ao aumento dos riscos cardiometabólicos. A gordura abdominal também é fator de risco para o infarto.
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